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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

stars!

"it maybe rainin'
but there's a rainbow above u..."

Fiquei pensando,certo dia,na tendência que as mães tem de prender os seus filhos.Minha mãe,por exemplo,sempre foi relativamente liberal.Quer dizer,sempre me senti à vontade para conversar com ela sobre qualquer coisa e pedir conselhos.Ela sempre foi paciênte nos meus momentos de crise e sempre apoiou minhas decisões profissionais e amorosas.Porém,ela sempre foi bastante protetora.Não só com questões que toda mãe se preocupa,como que horas e com quem vai sair mas com questões bobas,como "não chegue perto da janela da casa de fulaninha...",como se eu fosse pular de lá ou algo do tipo.

Essas preocupações sem sentido me levaram a me perguntar,se todo esse medo sem fundamento,tem à ver com todo o meu período de crise e rebeldia,quando eu achava que a vida de qualquer ser humano era melhor do que a minha.
Eis que certo dia,a minha vida perfeita saiu dos trilhos,foram desilusões encima de desilusões e no final de todo aquele processo de brigas e mentiras eu tive que buscar ajuda de um médico.
Nos primeiros meses de medicação eu senti uma dormência bem vinda,depois de todo o turbilhão de emoções e com o passar do tempo,eu passei a ter um controle maior sobre o que eu sentia.E hoje,sem remédios e sem análises semanais eu me enxergo bem melhor do que naquela época.Aquela época,aliás,se resume à um borrão no meio passado,que eu não consigo me lembrar com clareza o que me passava pela cabeça.Das minhas crises,porém,eu me lembro de todas.Lembro das que ocorriam tarde da noite e caía no sono de exaustão depois de horas e horas chorando e lembro da vez em que eu arranhei os meus pulsos com gilete.Eu nem sei bem o porque,foi mais uma maneira de chamar atenção do que de extravasar minha raiva ou a minha dor.Olhando pra trás,talvez tenha sido mais um apêlo por atenção e definitivamente não foi uma tentativa de acabar com a minha própria vida.
Eu lembro de ter tentado esconder o corte com a munhequeira da Nike que eu usava para jogar tênis.E lembro de que quando a minha mãe descobriu ela passou dias e dias batendo na porta do meu quarto de dez em dez minutos pra se certificar de que eu estava bem.Aquelas cicatrizes foram o começo do fim.O começo do fim,porque eu havia me transformado de uma criança independente e decidida à uma adolescente frágil e bipolar.Foram como se todos os anos de esforço dela tivessem ido de água abaixo.Eu era esforçada,coseguia o que queria sem o menor esforço,honrava todos os meus compromissos e de repente eu não conseguia passar mais de uma ou duas horas prestando atenção na mesma coisa,as notas baixaram e eu fui me fechando de uma forma,que não assustou somente ela,mas toda a família.A menininha brilhante tinha se transformado em uma adolescente fracassada,incapaz de resolver seus problemas sozinha.

Para a minha família inteira aquilo foi um choque,imagine só para a minha mãe.
Hoje em dia,eu vejo o quanto ela tenta de todas as formas manter os meus pés no chão,fazer com que eu tenha a determinação de outrora,embora saibamos que isso pode nunca chegar a acontecer,apesar da inacreditável melhora.
Antes disso,antes de todas as crises,antes da depressão,eu vejo que a minha mãe tentava me proteger(em vão) da realidade ao redor e eu me dei conta,de que a maioria das mães pensa assim,o que poderia o mundo oferecer aos seus filhos que elas também não podiam?É instinto materno,mas inevitavelmente,nós costumamos criar asinhas e quando essas asinhas acumulam uma quantidade considerável de viagens,é que percebemos que nossas mães querem nos proteger daquela primeira decepção,da primeira deslealdade que muda tudo,da primeira perda significante,daquela primeira mentira,que carrega junto com ela,àquela inocência da infância,quando a gente não costumava medir as palavras e as verdades saíam sem esforços.É de certa forma triste,mas a gente sabe que não dá pra ficar apenas assistindo as coisas aconteceram,um dia a gente tem que sair daquela redoma de vidro e quebrar a cara lá fora,exatamente o que elas temiam que acontecesse...

Minha depressão foi uma dessas fases dolorosas da vida que você e as pessoas ao seu redor são obrigadas a testemunhar.Dolorosas mas necessárias.
Minha depressão não foi fingimento,eu não me cortei com gilete porque eu queria ser emo ou porque milhares de adolescentes da minha idade colocavam fotos de pulsos cortados nos fotologs.Só deixando isso claro,para quem acha que depressão é 'frescura'.E eu não to aqui pra impressionar a todos com a minha história de superação.Não existem atos heróicos aqui,só uma vontadezinha escondida de que no final as coisas dessem certo.É um processo lento,é doloroso e quem já sofreu sabe que a gente vai levando um dia de cada vez.Sem dramas maiores até agora e com uma tendência surpreendente a enxergar o lado bom das coisas,das pessoas,da vida...

Eu nunca havia falado assim sobre esse assunto.Comentei com alguns dos meus amigos,é claro,mas nunca havia falado abertamente.Sempre achei que sairia forçado,dramático,exagerado...mas é a verdade,o mais próximo possível dela tranformado em palavras.
Eu sei que muita gente não entende a doença,como o meu próprio pai nunca entendeu,mas no fim das contas você sempre acha uma forma de escape,por mais que eu tenha memórias de um pai que parecia não ser capaz de me amar durante aquele período eu tenho memórias de pessoas que conseguiram me amar em dobro.








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